Quem acompanha a cena lolita deve ter ficado sabendo que o Mr Yan, dono da loja japonesa
Body Line (falo sobre ela
nesse post antigo do blog), veio de surpresa pro Brasil e ficou cerca de uma semana (25 até 28 em São Paulo e 28 até dia 2 de julho no Rio de Janeiro), aproveitando que estava no Uruguai. No dia que chegou, a
Lívia foi recepcioná-lo e eu encontrei eles onde haviam marcado: na Avenida Paulista - que afinal de contas é uma boa representação da cidade -, para fazer turismo e uma entrevista que eu havia requisitado antecipadamente. Foi uma pena ele não querer que fosse feito um vídeo e na hora também não quis que o áudio fosse gravado, então não tenho como transcrever as exatas palavras do que foi falado... Mas esse bate-papo foi o mais próximo de uma entrevista, juntamente com as perguntas e respostas do
meeting aberto do sábado (que eu não pude ir), já que ele afirmou recusar esse tipo de abordagem da mídia.
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casa das rosas, do qual ele não se impressinou nem um pouco. haha mesmo assim ele deixou bem claro sua preferência por arquitetura antiga e natureza. os prédios comuns entediavam ele ainda mais. |
Mr YanDesde que começaram os contatos com os países fora do Japão, Mr Yan se tornou uma figura controversa por causa das polêmicas que envolviam a sua marca. Ele é completamente ciente disso e falou abertamente sobre o assunto, tanto que tomou a iniciativa dando a sua versão a respeito dos escândalos, sem que eu nem tivesse começado a fazer as perguntas. Ao menos ele não hesitou nem deixou de responder nada dos mais variados assuntos (de fábricas à relacionamentos), e nesse sentido foi muito solícito e paciente, pois mesmo quando a gente não parecia entender sobre eles, fazia questão de explicar e desenhar se fosse preciso. :P Até porque o inglês não era a língua nativa e isso unido à uma diferença cultural tão grande dá muita margem para más interpretações. Acho que isso acontece de forma recorrente com a comunicação entre a Body Line/Mr Yan e seus clientes quando sua personalidade que foge do esteriótipo asiático, hiperativa, fanfarrona e direta, sempre fazendo piadas e rindo, é levada mais a sério do que deveria. Porém, se deveria ter cautela sabendo que o que a gente espera é profissionalismo e compostura.
Se alguém perguntasse a minha impressão, diria que ele exterioriza as coisas de forma simples e divertida, mas que no fundo não é nem um pouco ingênuo, e sim um empresário esperto e experiente. Só que em poucas horas de conversa e convívio não me permitem julgar a índole dele.
Pessoalmente acho curioso a forma como mistura seu lazer com seu negócio. Ele diz ter decidido fazer as contas do Facebook (
perfil e
página) depois do episódio da Venus Angelic para mostrar como ele realmente é pro mundo, e que as viagens não tem relação com isso e nem com a promoção da marca: nem mesmo está indo apenas nos lugares em que vendem mais. Então qual objetivo desse "world tour" que parece estar fazendo? Já fazem mais de 6 meses que ele viaja por diversos países da Europa e América, no esquema mochileiro - uma calça, uma bermuda e um "traje gótico", sem grandes planejamentos.
Os critérios parecem ser: países em que muita gente requisitar sua ida e portanto tenham alguém pra guiar, e se tiver algo interessante (que as pessoas podem mostrar por fotos, loliday, etc). Simples assim. Tanto é que ele não pretendia vir para América Latina, porque parecia muito perigosa (mencionou muitos pacotes perdidos haha), mas reconsiderou pelos convites dos mexicanos. A próxima parada agora é Miami e Orlando (Disney) e ainda está pensando em Rússia, Suíça, Inglaterra e não tem previsão de parar. :O Realmente interessante essa vida de dar a volta ao mundo sendo guiado (e pago, afinal de contas) por lolitas, não é mesmo...?
Body Line
Então infelizmente as viagens não significam uma pesquisa para a abertura de uma loja física fora do Japão, mas Mr Yan disse que um dos países que poderia considerar é os EUA - um dos que mais vendem -, México, pela "fanbase" e entusiasmo deles e o Brasil: nunca. :( Isso não impede de haver representantes que revendem, é claro, e além disso estão se esforçando para facilitar ao máximo a acessibilidade e crescimento internacional da marca. Eles realmente parecem estar atentos às necessidades dos consumidores, e o próprio Yan admitiu que às vezes checa as comunidades lolitas internacionais, como o live journal e blogs para saber sobre a repercussão, reclamações e pedidos. Algumas adaptações que acredito fazerem para cativar consumidores de fora são os fretes mais em conta ($10 dólares fixos pelo airmail é muito útil mesmo), tamanhos maiores de roupas e sapatos (que nenhuma outra marca lolita grande faz), estampas e cores ao gosto ocidental (na página dele estão até tendo votações sobre preferências), deixar as réplicas de lado por designs originais e quem sabe o lançamento de uma linha masculina! Até mesmo o tão requisitado
body pillow do Mr Yan deve ser lançado até agosto. :x
Segundo ele, o aumento dos preços dos produtos é justificado pelo custo da produção na China, que sobe a cada ano. Ainda assim considera muito barato pela qualidade que oferecem, e disse que só escuta reclamação de estrangeiros em relação a isso, enquanto no Japão apenas agradecem, fazendo filas nas lojas da Body Line. Ele comenta sobre o olhar clínico para "controle de qualidade" dos japoneses: se não vendesse lá, significaria que os produtos não são bons, e fala também do "segredo" da marca: possuir a maior fábrica própria na China para roupas lolita e cosplay, que garante uma produção consistente sem variação de qualidade de produções terceirizadas ou alternadas, fabricar em grande escala, costureiros que fazem apenas uma parte da roupa (por exemplo, apenas as mangas) para garantir perfeição e períodos de 8 meses de estudos e testes até a peça ficar pronta segundo os padrões almejados. Acredito que isso unido ao fato de clientes sempre pedirem para re-estocar itens antigos faz com que a marca não lance muitas peças novas o tempo inteiro.
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lívia com a pose que ele queria que ela fizesse. :P |
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"tokyo tower" como ele chamava a antena da gazeta. haha |
- Body Line x brands
Para ele uma peça de qualidade é uma que seja durável, e chega a dar vários bold statements como: "A Body Line é a maior loja lolita. A qualidade é melhor do que a da Angelic Pretty". Não vou nem começar a comparar cada variável que envolve a definição disso, mas é para se pensar: quantas peças da BL vocês já viram se desfazendo ou soltando tinta? E quantas da Baby, the Stars Shine Bright? Pro Mr Yan, ser caro não significa bom, e marcas como essas incluem no preço que a gente paga pela exclusividade, pela propaganda e marketing na revista Kera e em toda aquela divulgação enorme. Mas que, na prática, os custos para produção são similares.
- Body Line x tao bao
Mr Yan obviamente também está ciente das marcas do tao bao. Ele comenta algumas desvantagens que elas ainda tem por não possuir lojas físicas, e apesar do material ser inferior, eles são espertos tirando fotos bonitas e com photoshop. A Body Line por outro lado não usa e "não mente", por isso suas peças vão sempre parecer melhores pessoalmente do que nas fotos do site (todo mundo que compra lá de fato comenta isso haha), ele quer que as pessoas se surpreendam. Eu por outro lado acho que as lojas no tao bao variam muito e que apesar de pequenas, estão melhorando cada vez mais... melhor ele ficar esperto com a concorrência chinesa, até porque já tem uns malandros fazendo réplica da BL, quem diria... 8D
Brasil
A aura suspeita que gira em torno dele continua, porém é difícil menosprezar a importância da vinda do Mr Yan para a moda j-fashion local, pois não é todo dia que temos a oportunidade de sentar e tomar um café com o dono de uma marca japonesa e conversar diretamente em inglês, discutindo nossos problemas para comprar online, não é? Desde a retirada do visto até sua chegada, ele teve uma visão clara do que é morar aqui: é tudo burocrático, caro, tem milhões de taxas, é quente demais, não é seguro e o futebol é às vezes excessivo. Mas também acolhe uma variedade enorme de tipos físicos, culturas e dedicação: lolitas que passam por cima desses problemas todos e que percorrem distâncias enormes em nome do que gostam. Acredito que além do contato, no futuro vamos ver que a visão mais "global" que ele adquiriu visitando os países latino-americanos vai gerar soluções práticas, que podem ajudar nessa àrdua tarefa que é conseguir produtos importados e de qualidade decente por bons preços.
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até mais! |